Com participação especial de Eliana Alves Cruz, jornalista, escritora e vencedora do Prêmio Jabuti, o documentário Memórias da Cidade lança luz sobre a história da Fazenda Pilão D’Água, em Itapeva (SP), e propõe uma reflexão urgente sobre o papel da memória na construção do Brasil contemporâneo.
Dirigido por Adriano Vaz, o filme foi rodado entre fevereiro e abril de 2025 e percorre os rastros da cultura afro-brasileira e tropeira que moldaram a região Sudoeste Paulista. O lançamento oficial acontece no dia 7 de novembro de 2025, no Quilombo do Jaó, em Itapeva (SP) — local histórico que simboliza a continuidade dessa trajetória de resistência e ancestralidade.
UM OLHAR PROFUNDO SOBRE A HISTÓRIA
A Fazenda Pilão D’Água, patrimônio público tombado pelo município de Itapeva (processo nº 8.514/2009), é o ponto de partida do documentário e um dos últimos testemunhos materiais do tropeirismo no Brasil. O local é amplamente reconhecido por historiadores e arqueólogos como um sítio de alto valor histórico e cultural, essencial para a compreensão das origens afro-brasileiras e tropeiras da região.
Fundada ainda no século XVIII, a fazenda foi uma das maiores propriedades de invernagem de muares do país, integrando o circuito econômico que ligava o extremo sul do Brasil à vila de Sorocaba — eixo por onde circularam ouro, açúcar, café e, com eles, as marcas profundas da escravidão. Em suas terras, ergueram-se muros de taipa, senzalas, currais de pedra e a antiga Casa Grande, construções que resistem como testemunhos de uma época e de um povo.
Mais do que um sítio histórico, a Pilão D’Água é um território de memória afro-brasileira, onde se entrelaçam as histórias de tropeiros, escravizados e quilombolas. O local mantém vínculos diretos com o Quilombo do Jaó, fundado em 1889 — um ano após a abolição — e que até hoje preserva tradições culturais e religiosas herdadas daquele tempo.
Trata-se do último exemplar preservado do ciclo tropeiro na região Sudoeste Paulista, um patrimônio que pertence não apenas a Itapeva, mas a todo o país. A fazenda carrega em seu solo e em suas paredes o retrato da formação social e cultural do Brasil, lembrando que não há futuro sem memória.
Contudo, o cenário atual é de alerta. A Fazenda Pilão D’Água precisa de atenção e de ação imediata. Suas estruturas, desgastadas pelo tempo e pela falta de manutenção, correm risco de desabamento. Trata-se de um patrimônio público que clama por políticas de preservação, restauração e uso educativo.
Ao contar essa história, Memórias da Cidade faz mais do que documentar o passado: convoca a imprensa, os gestores públicos e a sociedade civil a se unirem pela defesa de um bem que pertence à história viva do Brasil.
VOZES DA MEMÓRIA
O documentário reúne depoimentos de pesquisadores, lideranças comunitárias e representantes da sociedade civil que abordam o valor histórico, arqueológico e simbólico da fazenda. Entre os entrevistados estão o arqueólogo e historiador Sílvio Araújo, a arqueóloga Sílvia Corrêa Marques, as representantes do Quilombo do Jaó Deise Lima e Kemilin Martins, o ex-prefeito Wilmar Matos, a ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Itapeva Isabel Reis e a arquiteta Maria Clara Holtz.
A produção conta ainda com a participação especial de Eliana Alves Cruz, cuja obra literária é referência nacional na valorização das vozes afrodescendentes e no resgate da memória ancestral.
SOBRE O AUTOR
Adriano Vaz é roteirista, diretor e realizador audiovisual cuja trajetória se dedica à valorização da cultura popular, da memória e das identidades brasileiras. Natural de Guapiara e Capão Bonito (SP), radicado em Itapeva há três décadas, desenvolve seu trabalho a partir de vivências com comunidades quilombolas, povos indígenas e assentados rurais — experiências que moldam e inspiram sua escrita e direção.
Entre seus projetos, destaca-se o documentário Seraphim – Uma Pipoca para Toda Uma Vida (Lei Paulo Gustavo, 2024), com participação especial de Paulo Betti, que conquistou repercussão nacional ao retratar a trajetória de Serafim Martins de Oliveira, pipoqueiro símbolo de Itapeva que viveu até os 102 anos. A obra reflete sobre o valor do indivíduo comum na construção da memória coletiva, reafirmando que a grandeza de um povo também se expressa nas histórias anônimas.
Roteirista e colaborador criativo na novela O Sétimo Guardião, de Aguinaldo Silva (TV Globo), Adriano possui formação em Marketing e especialização em storytelling, estrutura narrativa e adaptação literária. Com qualificação em gestão cultural, legislação e políticas públicas para o audiovisual, alia criação artística, pesquisa histórica e domínio prático de todo o ciclo produtivo — da escrita à difusão —, reafirmando seu compromisso com a cultura, a identidade e a preservação da memória.
REALIZAÇÃO
O documentário é realizado por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), programa do Governo Federal voltado à valorização da cultura e do patrimônio histórico brasileiro. A equipe técnica é composta por Yuri Higuchi (direção de fotografia), Luci Martins e Isabel Reis (produção audiovisual) e Hamilton Ramos (montagem e edição).
UM FILME, UMA CAUSA
Mais do que uma produção audiovisual, Memórias da Cidade é um ato de resistência e de amor à memória brasileira. O filme faz um apelo à imprensa, às instituições e à sociedade civil: é hora de olhar para a Fazenda Pilão D’Água não apenas como um lugar, mas como um espelho do Brasil — onde ainda ecoam as vozes de quem construiu, com suor e esperança, a nossa história.
Preservar a fazenda é preservar a nós mesmos: nossas origens, nossas feridas e a riqueza cultural que nos define como povo.
Lançamento oficial: 7 de novembro de 2025, às 13h30, na Associação dos Produtores Rurais do Quilombo do Jaó, em Itapeva (SP).
Exibição pública gratuita: 8 de novembro de 2025, às 19h30, no Teatro de Bolso Terezinha da Silva, em Itapeva (SP).









