A cidade de Itapeva, no Sudoeste Paulista, será palco de um importante gesto de memória e resistência. O documentário Memórias da Cidade, dirigido pelo roteirista e realizador audiovisual Adriano Vaz, estreia no dia 7 de novembro de 2025, às 13h30, na Associação dos Produtores Rurais do Quilombo do Jaó, com exibição pública e gratuita no dia seguinte, 8 de novembro, no Teatro de Bolso Terezinha da Silva.
A produção lança luz sobre a história da Fazenda Pilão D’Água, patrimônio público tombado pelo município de Itapeva e reconhecido como um dos últimos testemunhos materiais do tropeirismo no Brasil. Mais do que registrar o passado, o filme alerta para o estado atual de deterioração do local — hoje em ruínas — e faz um apelo por políticas de preservação e uso educativo desse que é um dos mais importantes marcos da história afro-brasileira no interior paulista.
Com participação especial da jornalista e escritora Eliana Alves Cruz, vencedora do Prêmio Jabuti, o documentário conecta o passado escravocrata e tropeiro da região com reflexões sobre o Brasil contemporâneo. A presença de Eliana, cuja obra literária é referência nacional na valorização das vozes afrodescendentes, amplia o alcance simbólico da narrativa, que une arte, história e ancestralidade.
TERRITÓRIO DE MEMÓRIA AFRO-BRASILEIRA
Fundada no século XVIII, a Fazenda Pilão D’Água foi uma das maiores propriedades de invernagem de muares do país, integrando o circuito econômico que ligava o extremo sul à Vila de Sorocaba, rota por onde circularam ouro, café, açúcar — e as marcas profundas da escravidão.
Entre muros de taipa, ruínas da Casa Grande e vestígios da senzala, o documentário revela a face humana por trás das pedras e dos rastros arqueológicos, aproximando a história dos tropeiros das vidas negras que sustentaram a economia da época.
O filme evidencia também a ligação direta entre a fazenda e o Quilombo do Jaó, comunidade vizinha fundada em 1889, um ano após a abolição, e que até hoje mantém viva a herança cultural e religiosa transmitida por seus antepassados. A relação entre os dois espaços reforça a ideia de que preservar o passado é compreender o presente e garantir o futuro.
DA ARTE À RESPONSABILIDADE
Filmado entre fevereiro e abril de 2025, Memórias da Cidade reúne depoimentos de pesquisadores, lideranças quilombolas e representantes da sociedade civil, como a arqueóloga Sílvia Corrêa Marques, o historiador Sílvio Araújo e as representantes do Quilombo do Jaó Deise Lima e Kemilin Martins.
Para o diretor, o objetivo não é apenas documentar, mas provocar reflexão e responsabilidade coletiva. “A Fazenda Pilão D’Água não é um espaço morto: é um território que pulsa, um espelho da nossa história. Preservá-la é um ato de justiça com o passado e um compromisso com o futuro.”
O DIRETOR E SUA VISÃO
Natural de Capão Bonito (SP) e radicado há três décadas em Itapeva, Adriano Vaz busca construir uma trajetória voltada à valorização da cultura popular, da memória e das identidades da região e do Brasil. Seu trabalho reflete um olhar atento sobre o cotidiano e sobre a força das comunidades, onde acredita residirem as grandes histórias.
Antes de Memórias da Cidade, dirigiu o curta Seraphim – Uma Pipoca para Toda Uma Vida, com participação especial de Paulo Betti, e foi coautor de Aguinaldo Silva na novela O Sétimo Guardião, da TV Globo. Formado em Marketing e com cursos voltados à narrativa, à estrutura de roteiro e ao mercado audiovisual, Adriano alia criação e pesquisa histórica em projetos que tratam o cinema como espaço de escuta, memória e transformação social.
CINEMA COMO ATO DE PRESERVAÇÃO
Realizado por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), o documentário conta com equipe técnica composta por Yuri Higuchi (direção de fotografia), Hamilton Ramos (montagem e edição), Luci Martins e Isabel Reis (produção), com colaboração de Teresa Cristina e Sílvia Corrêa Marques.
Mais do que um registro audiovisual, Memórias da Cidade propõe uma reflexão sobre o valor da memória e da preservação cultural. A obra convida o público a olhar para a Fazenda Pilão D’Água como um símbolo vivo da história do Brasil — um espaço onde se cruzam o trabalho, a resistência e a formação das identidades que compõem o país.
Ao destacar a relevância histórica e social da região Sudoeste Paulista, o filme reafirma o papel da cultura como instrumento de reconhecimento, escuta e reconstrução da trajetória coletiva.
Lançamento oficial: 7 de novembro de 2025, às 13h30 — Associação dos Produtores Rurais do Quilombo do Jaó, Itapeva (SP).
Exibição gratuita: 8 de novembro de 2025, às 19h30 — Teatro de Bolso Terezinha da Silva, Itapeva (SP).
Direção: Adriano Vaz
Participação especial: Eliana Alves Cruz
Realização: Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB)








