Em um mundo cada vez mais conectado, as redes sociais se tornaram vitrines pessoais, onde compartilhamos momentos do cotidiano, conquistas e, infelizmente, também excessos. Um dos fenômenos mais preocupantes que emergem dessa realidade é a exposição de crianças e adolescentes por seus próprios pais, muitas vezes em busca de fama, engajamento e, principalmente, dinheiro. Mas até que ponto essa prática é ética e segura para os menores?
A chamada “maternidade/paternidade influencer” tem ganhado força. Pais criam perfis dedicados aos filhos, documentando cada passo, desde o nascimento até as primeiras descobertas. Vídeos de bebês em situações cotidianas, desafios que envolvem os pequenos, ou até mesmo a exibição de bens materiais adquiridos através dessa exposição, tornam-se conteúdo viral. O que para alguns é apenas um registro familiar, para outros se transforma em um negócio lucrativo, com parcerias, publicidade e monetização de conteúdo.
No entanto, por trás dos likes e comentários, esconde-se uma série de perigos que afetam diretamente o desenvolvimento e a segurança das crianças. Em primeiro lugar, está a **privacidade**. Ao expor seus filhos de forma tão massiva, os pais estão, na prática, abrindo mão da privacidade deles antes mesmo que estas tenham a capacidade de consentir ou discordar. Fotos, vídeos e informações pessoais que deveriam pertencer ao âmbito familiar tornam-se públicos e, por vezes, permanentes na internet.
Em segundo lugar, há o risco de **exploração e marketing infantil**. Muitas vezes, a exposição se dá com o intuito de vender produtos ou serviços, utilizando a imagem e a inocência das crianças como ferramenta de marketing. Isso pode criar uma pressão sutil sobre o menor, associando seu valor à sua capacidade de gerar receita. Além disso, a criança pode ser exposta a conteúdos inadequados ou a interações com estranhos que se aproximam através das plataformas.
Outro ponto crucial é o impacto no **desenvolvimento psicológico e social** da criança. A constante necessidade de “performar” para as câmeras, a atenção excessiva e a pressão por engajamento podem gerar ansiedade, insegurança e dificuldade em desenvolver uma identidade própria, separada da persona online criada pelos pais. A criança pode internalizar que seu valor está atrelado à aprovação pública e à sua capacidade de entreter.
A questão legal também é um fator a ser considerado. Em muitos países, como no Brasil, existem leis que protegem a imagem e a integridade de crianças e adolescentes. A exploração comercial da imagem de menores sem o devido cuidado e consentimento pode acarretar em problemas legais para os responsáveis.
A busca por reconhecimento e estabilidade financeira é compreensível, mas quando essa busca se sobrepõe ao bem-estar e à segurança de uma criança, é preciso parar e refletir. A infância é um período de formação, de descobertas e de proteção. As redes sociais, com seu potencial de alcance e monetização, não podem se tornar um palco para a exploração da inocência.
É fundamental que os pais e responsáveis entendam os limites éticos e legais da exposição de menores online. O amor e o cuidado com os filhos devem vir sempre em primeiro lugar, e a busca por dinheiro ou fama jamais deve justificar a violação da privacidade e da integridade de uma criança. Afinal, até que ponto vale tudo por dinheiro quando o futuro de uma vida está em jogo? A resposta, para a maioria de nós, é clara: vale a pena preservar a infância, antes de tudo.