Em minha condição de anfitriã e gestora cultural, vivenciei, com alma profundamente tocada, a visita do Comendador Luiz Henrique Becker à nossa Itaporanga — berço de Angelino de Oliveira , terra onde canta o sabiá e a cultura pulsa com o vigor das raízes sertanejas.
A presença do Comendador Becker — o Poeta dos Sonhos — foi um acontecimento ancestral, bordado de símbolos, encontros e gestos que tocaram o espírito da cidade. Desde os primeiros passos em solo itaporanguense, sua passagem se revelou como uma sementeira de poesia profética, que me fez recordar passagens bíblicas sobre o Rei Poeta Davi — homem guiado pela inspiração divina, que transformava a vida em oração, a guerra em louvor e a dor em cântico. Por onde o Poeta dos Sonhos passou, tornou-se evidente que Jesus Cristo estava conduzindo tudo.
Na Praça João Abdalah, acompanhados por estudantes, educadores, lideranças indígenas e representantes da gestão municipal plantamos juntos um Ipê Vermelho — árvore que agora se ergue como signo de resistência, beleza e pertença. Seu gesto, caro Comendador, fez ecoar a memória de seu avô, Sr. Alcides Cordeiro Becker, que um dia lhe dissera: “Itaporanga é terra linda, berço de paz.” Ao seu lado, essa paz foi reencantada.
No Mirante do Rio Itararé, sob a condução do Cacique Angerri da Silva, da Aldeia Tekoá Porã de Itaporanga, e com a presença do Cacique Ronaldi Natan, da Aldeia Txondaro Tekoá Mbaé, de Barão de Antonina, junto à comunidade indígena, ao som do cântico em tupi — “Solo Sagrado” — foi plantado outro Ipê, de flores vermelhas com violetas, por mãos infantis e sagradas. Ali, diante da terra sagrada da Aldeia Tekoá Porã, natureza e espírito se entrelaçaram em reverência.
No Museu da Paulistânia Professor João Castilho, ao cair da tarde, celebrou-se um Chá, foi um rito de escuta, afeto e palavra. Em meio aos aromas e silêncios, pude apresentar- lhe à comunidade como presença viva da poesia — e, com gratidão, recebi a honra de ouvi-lo declamar “Itaporanga, Diamante do Brasil”, uma verdadeira oração o poema que agora resplandece em nosso mural de memórias.
Em nome da infância itaporanguense, agradeço a oferta sensível de seu livro O Barquinho dos Sonhos, cuja leveza é bússola para o imaginário e cujo lirismo afaga o desenvolvimento emocional de nossas crianças.
Também agradeço, com emoção, o aceite de minha pintura — executada em tempo real — na tentativa de capturar, em traço e cor, o brilho dos olhos que anunciam poesia. E igualmente agradeço por levar consigo o livro “Memórias de Elisa”, doado pela educadora Leida Dognani, como símbolo do nosso entrelaçamento de memórias e afetos.
O evento, por mim cuidadosamente pensado e tecido, contou com parcerias preciosas: das escolas, das aldeias Tekoá Porã, Itaporanga e Txondaro Mbaé Tekoá, Barão de Antonina, das secretarias municipais, do Museu e, sobretudo, do Ponto de Cultura Angelino de Oliveira, cuja juventude também se manifestou com arte e honra, como no gesto da poetisa Thainá Maria Gomes — voz promissora que se ergueu em verso e reverência e da musicista juvenil, Helen Boiadeira com sua voz que ainda ecoa em nossos corações.
Sua presença, Comendador, trouxe não apenas o brilho de um nome ou a força de um título, mas a doação genuína de quem crê na arte e poesia como ponte, como cura e como legado.
Itaporanga floresceu neste dia. E eu, Adriana, em nome de muitos, lhe agradeço profundamente por semear conosco essa memória viva que é, ao mesmo tempo, raiz, flor e horizonte.