Quando uma pessoa tem alguma dúvida que deixa ou ao menos deveria deixar a consciência dela “pesada” no momento em que ocorre uma situação injustificável do ponto de vista moral e/ou ética, costumeiramente usamos a expressão “essa pessoa não tem escrúpulo”.
Os legionários (grupos de soldados romanos que marchavam mundo afora durante as batalhas travadas e conquistas territoriais) usavam sandálias e quando uma pequena pedra se alojava ali no vão dos dedos ou entre a sola do pé e a sandália, mesmo sentindo-se incomodados com aquela pedrinha tinham que continuar caminhando longos trechos e se parassem para retirá-las, atrasavam tropas e as missões para as quais eram designados. Esse minúsculo pedregulho pontiagudo era conhecido em latim como “scrupulus”. Então, por consequência, os soldados romanos que continuavam marchando, apesar da dor, eram considerados homens de honra, isto é tinham escrúpulo. Por outro lado, os senadores e autoridades que viviam no conforto e andavam a cavalo não tinham escrúpulo, pois não enfrentavam incômodos nos pés nos trajetos que percorriam.
Com o tempo, a expressão originária do latim para a pequena pedra tornou-se sinônimo de “consciência limpa, ética, moral” e palavras que cabem neste contexto. Um grande período depois, abrangendo séculos, ainda falamos de autoridades e políticos que não têm escrúpulos em suas atitudes.
Vamos refletir sobre três fatos atuais: o “vai e vem” do decreto que aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) , o Projeto de Lei (PL) que a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram para aumentar o número de Deputados Federais no Brasil de 513 para 531 e o triste e trágico episódio da morte da brasileira Juliana Marins na Indonésia. Primeiramente, aumentar o IOF para arrecadar mais e bancar os gastos com o cabide de empregos que há na “máquina administrativa” do governo é ético? No caso do aumento de número de Deputados Federais (DF), será que é moralmente aceitável dizer que o Brasil precisa de mais DFs, sendo que a maioria que está “trabalhando” lá na Câmara não justifica os votos que receberam? Por fim, a lei 9.199/2017 que não prevê assistência de translado de corpo e cobertura de despesas de sepultamento de brasileiros mortos no exterior, por parte do governo federal, foi elaborada e aprovada com plena consciência coletiva, pensando nos conterrâneos? Abrangendo ainda mais esse assunto: o local aonde Juliana Marins se acidentou e teve seus últimos momentos de vida, o Monte Rinjani, na Indonésia, tem como marca negativa nos últimos 5 anos a ocorrência de mais de 170 acidentes, com 8 mortes. Seria um local adequado para a realização de turismo de aventura? O governo da Indonésia, deveria ter interditado este local já nos primeiros acidentes ocorridos, não é?
Concluindo, tiremos como lição das três situações supracitadas: nós temos que ser as pedrinhas nas “sandálias” dos governantes e políticos que hoje não andam mais a cavalo e sim de jatinho. Sejamos “scrupulus” e os incomodemos diariamente por onde andarem, para que realizem corretamente seus trabalhos em prol do bem coletivo.
Paz e bem a todos! Até a próxima.